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Essa é uma curadoria sobre comunicação. Sobre expressão. Sobre democratização.

Resistência contra o apagamento, contra o esquecimento, contra o silenciamento.

Abro essa fissura para trazer vozes plurais, sublinhar os contrastes polarizados atuais das redes e encontrar formas de criar e manter espaços democráticos.

A aposta é que essas fissuras possam ser abertas através das rádios. Porque tanto a rádio quanto a Internet são meios de comunicação que nasceram com a promessa de serem símbolos democráticos e que historicamente foram (e continuam sendo) usados como propaganda para vigilância, opressão e manipulação política.

Rádios comunitárias, online e coletivas são independentes por natureza, garantem sua viabilização e existência a partir de coletivos que funcionam como antagonismo contra os meios dominantes. Espaços independentes e, geralmente, baseados em tecnologias livres. São espaços de oposição e democracia dentro da Internet.

A Radio Nopal é uma estação de rádio coletiva, difundida online, transmitida a partir da Cidade do México. Sua missão é fomentar expressões artísticas plurais através de residências nacionais e internacionais, oficinas que vão desde o artesanato até workshops de criação e utilização de ferramentas tecnológicas, como “Fabrica um transmissor FM e monta sua própria rádio local”, onde ensinam a criar a sua própria rede de transmissão de rádio. A Radio Nopal é um ponto de encontro que gera vínculos de colaboração e incentiva a criação de comunidades através da livre troca de uma multiplicidade de conhecimentos.

A transmissão da rádio é feita através de um dispositivo conterrâneo chamado mensajito.mx. Trata-se de uma opção aberta de baixo custo para desenvolver uma estação de rádio pela Internet sem o uso de computadores convencionais ou também como uma segunda linha de transmissão para aqueles que já fazem rádio de frequência, possibilitando a transmissão tanto online quanto via rádio.

Uma rádio é um sistema de comunicação que utiliza ondas eletromagnéticas que se propagam pelo espaço. A comunicação se dá entre dois componentes básicos: o transmissor e o receptor. O transmissor gera oscilações elétricas com uma frequência, que pode ser uma frequência modulada (FM) ou uma amplitude modulada (AM). Essas ondas podem ser transformadas em rádio, telegrafia sem fios, telefones, televisão, radar, sistemas de navegação e a comunicação espacial.

E por que isso importa? Porque embora hoje utilizamos predominantemente a Internet, esse lugar intangível tem se transformado em um lugar de batalha política, bipolarizado, que gera afetações concretas em nossas vidas privadas, ferindo sistemas democráticos e direitos humanos.

A história da rádio, assim como da Internet, é construída desde a promessa da conectividade e da pluralidade que se tornou instrumento de propaganda política, perseguição e deslocamento. E é a partir da pluralidade de conteúdo e de estratégias de comunicação que nos possibilita criar resistências, por isso importa.

Hoje em dia, no entanto, chamamos “rádio” não somente a quem utiliza o sistema de transmissão, mas também a programas de natureza online que utilizam da facilidade do sistema de redes que conhecemos como Internet para reverberar suas vozes.

É o caso da rádio participativa feminista Hammam Radio • حمّام راديو . Baseada em Berlin, nasce da necessidade de um mecanismo de enfrentamento não violento, da necessidade de espaços mais seguros para que as mulheres falem, compartilhem, expressem e se conectem. Através da transmissão online, mulheres em toda a sua diversidade se encontram, falam, participam, pensam, gritam, choram, riem, ficam com raiva, amam e levantam suas vozes. Amaldiçoando, dançando, cantando e tocando músicas que reflitam seu estado de espírito e seu estado atual.

A Hammam Radio • حمّام راديو traz essas vozes poderosas, subversivas, poéticas, curativas, criativas e cruciais nestes tempos de crise do capitalismo e do patriarcado.

Muitas das vozes trazidas são, assim como a palavra que nomeia a rádio, árabes, persas e turcas. Hammam, que pode ser traduzido como “banho”, são espaços públicos onde mulheres e homens separadamente vão para se limpar e relaxar, mas também para falar sobre suas vidas, histórias e experiências.

Trazer distintas vozes: de artistas, de passantes, da comunidade, e de quem se aproximasse do microfone, foi o que fez a Radio Volusia durante a execução do projeto Volusiano na Praça, uma ocupação performática e sonora na ágora da Praça Cornélia, no bairro da Lapa em São Paulo. A web Rádio Volusia, comandada por Rogério Borovik e Cacá Toledo montou um estúdio de web rádio na praça, com transmissão via streaming em todos os encontros que envolviam música, palestras e discussões acerca da difusão de informações via web e como criar uma web rádio.

O nome da curadoria é uma homenagem à Rádio Muda de Campinas, a qual Borovik também foi parte, e a todas as rádios comunitárias que mantém as conexões, acessos e estruturas para dar continuidade a essa forma de expressão livre e fundamental para a democracia. É também uma menção, que me parece mais uma metáfora, às alegações contra a existência das rádios livres, onde se propagou a ideia de que elas seriam uma ameaça ao tráfego aéreo e a comunicação de emergência. Em um ponto eles acertaram, são sim uma ameaça, mas não a aviões, mas a sistemas autoritários e antidemocráticos, a homogeneidade de discursos, e ao patriarcado.