Instalação video-mapeada em cenário doméstico. Co-autoria com Lucas Bambozzi para a exposição Crossing/ Travessias sob curadoria de Priscila Arantes. A peça destaca o pânico coletivo causado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em maio de 2006. Fundado em 1993 por detentos do presídio de Taubaté em São Paulo, o PCC é uma organização criminosa que tem sido responsável por diversas atividades criminosas, tais como fuga de presos, motins prisionais, tráfico de drogas, roubo de rodovias e atividades terroristas.

  • Detalhe: Do Sofa da Sua Casa, 2010. Paloma Oliveira e Lucas Bambozzi
  • Registro: Do Sofa da Sua Casa, 2010. Paloma Oliveira e Lucas Bambozzi
    Registro: Do Sofa da Sua Casa, 2010. Paloma Oliveira e Lucas Bambozzi
  • Registro: Do Sofa da Sua Casa, 2010. Paloma Oliveira e Lucas Bambozzi
    Registro: Do Sofa da Sua Casa, 2010. Paloma Oliveira e Lucas Bambozzi

título: Do sofá da sua casa
data: 2010
descrição técnica: projeção mapeada sobre cenário doméstico

Do sofá de sua casa é uma continuidade de outro projeto chamado O Dia em que São Paulo parou, criado a partir do conceito de re-encenação a convite do curador italiano Domenico Quaranta e do artista e produtor ítalo-esloveno Janez Jansa para a exposição Re:akt! que aconteceu em 2009 no leste europeu (Romênia, Eslovênia e Croácia). Para este projeto, me foi dada a liberdade de escolher um tema (poderia envolver fatos históricos, políticos, ou acontecimentos ligados à arte) para abordá-lo a partir da perspectiva de “re-enactment”, ou re-encenação. Durante o processo de pesquisa me deparei com uma certa urgência em tratar de estratégias envolvendo meios de comunicação, buscando um tema mais próximo, que fosse uma referência menos teorizada e mais ‘vivenciada’.

descrição conceitual:

Como nos chega o mundo lá fora a partir do sofá de nossas casas? O que nos mostram as janelas ou tevês como interfaces de mediação, quando algo de estranho acontece no espaço exterior? Reais ou mediadas, as janelas dirigem nossos olhos a partir de recortes do mundo. Cada vez mais, câmeras portáteis e aparelhos celulares constituem as extensões capilares desse sistema de visão. E assim promovem efeitos inesperados, especialmente a partir de suas possibilidades de uso em rede. Por meio de articulações feitas com celulares dentro de cadeias em 15 de maio de 2006 a organização PCC parou a maior cidade da América Latina, numa data que ficou conhecida como ‘o dia em que São Paulo parou’.

Em uma progressão de incidentes que culminaram em uma segunda feira fatídica para grande parte da população paulistana, integrantes do PCC articularam ataques a ônibus, bancos e bases da PM na cidade.

A instalação Do Sofá da Sua Casa reconstitui através de vídeos mapeados em um cenário doméstico, o pânico vivido por milhões de pessoas diante do espetáculo midiático que se seguiu aos ataques. São vídeos que contrapõem diferentes pontos de vista, que fazem oscilar a noção de verdade embutida nos registros visuais: em imagens dos ataques encontradas em hipotéticos celulares perdidos, através de uma suposta conversa com um integrante do PCC em crise de consciência, a cena de um ônibus sendo queimado até o fim, as linhas de varredura de uma TV que desenha os fatos de forma fragmentada, por sobreposição e excesso.

contexto

A perspicácia do uso das tecnologias móveis por parte do PCC constitui um evento sem precedentes na história do país. O poder de swarm (efeito enxame) ridicularizou todos os modelos de flash-mobs que por aqui se ensaiaram. A sociedade percebeu que mal se organiza em rede de forma compartilhada, apesar do imenso potencial de conectividade que se observa no país.

Sem prever um uso comum e transformador para a sociedade, a perspicácia do uso das tecnologias móveis reverbera agora não mais como discurso, mas como assombro de uma estratégia extrema.

Com base em uma reportagem apresentada pela Rede Record em 2006 (chamada O Tribunal do Crime), a instalação evoca essas questões colocando o participante em um lugar comum, diante da TV em uma sala, mas apresentando-o a situações que são na maioria das vezes veladas.

O espaço é criado de forma a evidenciar essas questões imageticamente: através das janelas sem horizontes, o que se enxerga é um contorno alienado do que de fato nos cerca, a representação de uma figura humana encontra-se alheia aos fatos que acontecem ao seu redor; uma televisão mostra um mundo recortado ao ponto de não discernirmos o que é mostrado.

A questão não é nos colocarmos no lugar do juiz, mas perceber que existem forças e poderes paralelos extremamente eficazes e articulados — talvez, muito mais do que gostaríamos.

De certa forma, falar sobre este tema em outro continente envolve dificuldades mas também facilidades tendo em vista um público que busca nas informações básicas (não permeadas pelo medo ou pelos ânimos exaltados) os parâmetros para a compreensão do trabalho.

Trazer o tema aqui para São Paulo nos exige pensar mais profundamente sobre o tema e todas as questões conexas, de grande complexidade. Trata-se do desafio de nos colocarmos em uma posição de vulnerabilidade, de aceitarmos a condição de sermos avaliados por todos aqueles que têm, muito próximo de suas memórias, sua própria visão daqueles dias.

Ficha técnica

concepção, desenvolvimento e edição: Lucas Bambozzi e Paloma Oliveira

montagem: Maria, Cadú Pimentel

Imagens: imagens documentais diversas, re-encenações realizadas pelos artistas e reportagem da Rede Record veiculada em rede nacional.

Participações nos vídeos: Daniel Seda e Grafis (série 1), Alexandre Porres, Thais de Almeida Prado, Denis Okuma, Fabiano e Jóia (série 2), Rogerio Borovk (série 3).

Video frases (com muitos agradecimentos): Maria Angélica de Andrade Oliveira, Cybelle Oliveira, Samantha Oliveira Brianez, Maria, Carol, Gerson, Mariano, Osmar, Elias, William Jr., Marcus Bastos, Marcos Farinha, Paloma Oliveira, Lucas Bambozzi, Petterson Costa, Lina Lopes, Mateus Knelsen, Caio Bonvenuto, Ruy Fernandes, Rodrigo da Rocha, Cadu Sturaro, Juliana, Estelio, Marco Nascimento

Máscara: Petterson Costa

A exposição foi desenvolvida como parte das comemorações dos 40 anos do Paço das Artes, e integrando o São Paulo Polo de Arte Contemporânea (programação oficial da 29a Bienal de Arte de São Paulo).