Performance audiovisual interativa com Mateus Knelsen. A artista atravessa um espaço público carregando um dispositivo que lhe permite “raptar” os rostos daqueles que encontra, levando-os para si e projetando-os em um edifício.

  • Performando com Marcus Bastos
  • Photo: Camila Picolo
  • Photo: Camila Picolo
  • Photo: Camila Picolo
  • Teste de imagem no edificio da FIESP
  • Performando com Ruy Fernandes
  • Presentation for SPUrban festival flyer

Performance Audiovisual ao Vivo
Ano: 2013/2015
Autores: Paloma Oliveira e Mateus Knelsen
Exposto em: SP Urban Digital Festival 2013 e FILE 2015

Monomito é uma performance multimídia em que um performer (Paloma Oliveira) cruza um espaço público vestindo um aparato que lhe permite “sequestrar” os rostos daqueles que o cruzam, tomando os mesmos para si, em um contínuo devir de faces. O performer carrega consigo um sistema que reconhece padrões visuais de rostos humanos por intermédio de uma câmera — posicionada em um suporte na altura da cabeça do performer e apontada diretamente para onde quer que o mesmo esteja olhando — e um software. Ao reconhecer um rosto, a aplicação grava um vídeo. Estes vídeos são armazenados em um banco de dados, do qual o software passa a resgatar os vídeos gravados de maneira contínua, segundo as últimas expressões faciais detectadas. Este devir de rostos é então projetado no rosto do performer (encoberto por uma máscara branca, que serve como suporte para a projeção) e enviados simultaneamente a uma outra tela auxiliar, para que as pessoas ao redor possam visualizar as imagens em maior escala.

A performance referencia a teoria do herói de mil faces, de Joseph Campbell, para a qual todo herói é uma instância de um “arquétipo”. Ao propor uma situação em que o performer-herói vaga por um espaço de passagem, e simultaneamente, pelas pessoas com as quais cruza, apropriando-se daquilo que mais as identifica — o rosto — ainda que sem poder definir o seu próprio. O herói em Monomito não é somente um flâneur, mas o próprio flanar; é, ao mesmo tempo, o viajante e o seu trajeto.

O sistema desenvolvido para Monomito exterioriza o conflito do personagem, capturando os rostos de quem passa e projetando-os na máscara do performer, em um devir que explicita o processo de memória do dispositivo que carrega, uma base de dados em contínua modificação. As faces projetadas constituem portanto uma narrativa própria, cujo narrador é o software responsável por armazenar os rostos dos passantes e “lembrá-los” posteriormente, segundo critérios desenvolvidos ao largo de seu funcionamento.

Monomito foi apresentado no segundo SPUrban Digital Festival, durante o período de 04 a 28 de novembro de 2013, na Galeria de Arte Digital do SESI, Avenida Paulista 1313 , São Paulo, Brasil; e no FILE (Festival Internacional de Linguagem Eletrônica), em julho de 2015, também em São Paulo.

“Monomito” é como Joseph Campbell denomina sua teoria na qual o “herói” é um arquétipo que acompanha a humanidade por meio de contos, mitologias e da própria história.

O herói é uma figura que se repete em ciclos eternos e seus rituais de passagem são formas de transmissão de morais, valores e costumes responsáveis pela perpetuação desse conhecimento em diversas culturas e tempos. O ato heróico é uma transformação na qual o protagonista sai de seu local de conforto, mergulha no desconhecido e retorna como portador da moral.

Desde a cultura oral, passando pela literatura e posteriormente pelos meios audiovisuais, a figura do herói continua a ser aquele ícone, fruto de um anseio coletivo em preencher certas lacunas da experiência humana.

Mais contemporaneamente, as plataformas de comunicação social usam da figura do avatar como este arquétipo que convida a participação no mito contemporâneo da “aldeia global”.

Nas redes, sob máscaras do avatar, buscamos ser “heróis”, nos transformarmos, sermos outros. Estes meios de comunicação nos propiciam distintas formas de “estar” com outros: uma “não-presença”, um “não estar” onipresentes, sem tempo. Nas redes estamos sempre tratando de “outredades” sendo, seguindo, monitorando, compartilhando, outros. Tratamos ali de arquétipos, de “eu” coletivos.

Quando retornamos ao plano físico, as experiências muito próprias desses espaços digitais, em suas revelações, trocas e moralismos, retornam em forma de memórias e vivências, fazem com que nossas relações interpessoais físicas sejam outras.

E é através do Monomito, este objeto performático vestível, que nos travestimos de outros, nos tornamos outro alguém. Je suis d’autre, já pronunciava Rimbaud.

Monomito é composto por um chapéu, uma máscara, uma câmera, um projetor de vídeo e um computador. A câmera captura a imagem de pessoas. Essa imagem é processada pelo computador através de um software de reconhecimento de faces que as recorta e as envia para um banco de dados. Estas faces são posteriormente video-mapeadas e video-projetadas no rosto do performer que utiliza uma máscara translucida, suporte para a projeção. Tanto a câmera quanto o video-projetor estão localizados no chapéu.

Quando exposto na galeria, o objeto é colocado em um manequim e representa um avatar estático que continua capturando e projetando faces.

Quando vestido pelo performer, o outro se torna eu e eu me torno o outro. O performer passa a ser um “herói” enclausurado em um constante processo de transfiguração. Ele caminha pelo ambiente capturando e projetando imagens de pessoas em seu próprio rosto, aludindo a esses processos de relações virtuais e interpessoais em um mesmo plano de performance artística.

VERSAO SP URBAN

Uma versão a ser especialmente desenvolvida para a SPURBAN propõe estreitar ainda mais as relações entre herois-avatares, espaço urbano e virtual.

O performer caminha pela avenida Paulista camuflado com suas vestes sociais e sua pasta de executivo, intensionando se perder na multidão. Mas a própria luz do projetor em sua face denuncia ali um ser em constante mutação.
A mutação se dá, no entanto, somente quando se inicia uma relação de afeto, de comprometimento, de olho no olho, quando o passante se permite desviar sua trajetória para poder ter esse momento de troca com outro alguém. Aqui nasce a obra, deste encontro entre passante e performer. E é a partir deste encontro que acontece a obra.

A imagem do passante é apropriada pelo performer, projetada em sua face e enviada simultaneamente as 4 telas disponiveis no espaço. O “passante-interator-avatar” passa a ser na multiplicidade de tempos e espaço: no painel da FIESP e nos outros 3 painéis das rampas na Alameda das Flores.

Cada nova imagem é inserida em um banco de dados que é acionado randomicamente entre os espaços de não interação.

Monomito

Performance audiovisual (2013, 2015)
Autores: Paloma Oliveira & Mateus Knelsen

Tags:comunicação não verbal, performance, vestível

Categorias: monomito, performance